Por Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém/PA
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL
A frase é de uma das maiores
personalidades do século XX, Mahatma Gandhi, que conduziu seu país, a
Índia, assim como muitos outros, a encontrarem o caminho da
independência e da democracia, através da não violência ativa: “Quem não
vive para servir, não serve para viver”. Viver para servir! Proposta
desafiadora, fonte de realização para todos os seres humanos, caminho de
felicidade. Parece-nos encontrar aí uma das muitas Sementes do Verbo de
Deus plantadas na sabedoria e na prática religiosa da humanidade, pois a
própria Palavra Eterna do Pai encarnada, Jesus Cristo, mostrou a que
veio, abrindo perspectivas novas para seus discípulos e para toda a
humanidade: "Eu vim não para ser servido, mas para servir e dar a vida
por resgate de muitos" (Mc 10,45). Jesus Cristo veio ao mundo para fazer
a vontade do Pai, para servir.
O Antigo Testamento reporta a história
de Josué, a quem foi dada a tarefa de introduzir o Povo de Deus na Terra
prometida. Como havia acontecido na chamada Assembleia do Sinai, quando
Moisés, em nome de Deus, pediu ao povo, conhecido pela sua cabeça dura,
a definição de rumos, diante da Aliança estabelecida, também em Siquém
se reúnem todas as tribos de Israel (Js 24,1-18). A escolha de Josué, em
nome de toda a sua família, é muito clara: “Eu e minha casa serviremos
ao Senhor”! Nas diversas etapas da história da Salvação, retorna a
provocação positiva que toca no mais profundo da liberdade humana.
Trata-se de escolher o serviço a Deus, optar pela fidelidade à sua
Palavra, cumprir seus mandamentos, assumir a missão confiada àquele povo
escolhido. A resposta do povo de Deus a Josué é decidida: “Nós também
serviremos ao Senhor, porque ele é o nosso Deus” (Js 24,18). Durante os
séculos que se seguiram, continuamente o Senhor enviou emissários que o
chamaram de novo à fidelidade!
Veio Jesus, chamou discípulos, começou
uma nova forma de viver, do meio deles escolhe apóstolos, cria
relacionamento diferente, acolhe crianças, chama justos e pecadores,
derruba barreiras culturais e religiosas, abre a estrada da
fraternidade. Também o Senhor, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, entra
no maravilhoso jogo de provocação à liberdade humana. Depois das
primeiras etapas da pregação do Reino e da constituição de uma nova
comunidade de irmãos, os chamados evangelhos sinóticos pede aos
discípulos uma definição: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Cf. Mt
16,13-20; Mc 8,27-30; Lc 9,18-21). Já o Evangelho de São João, no texto
que a Igreja proclama no vigésimo primeiro Domingo do Tempo Comum (Jo
6,60-69), traz uma pergunta altamente provocante, após a multiplicação
de Pães e o Discurso de Jesus sobre o Pão da Vida: “Vós também quereis
ir embora?” Vem de Pedro a resposta que continua a ressoar pelos
séculos: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós
cremos firmemente e reconhecemos que tu és o santo de Deus!” Os
discípulos aprenderam a seguir Jesus, a partir da fé professada naquele
que é o Santo de Deus, Messias, Cristo, Filho de Deus. A Igreja não se
cansará de proclamar a mesma fé em Jesus Cristo, até o fim dos tempos.
Após a Ressurreição e Ascensão de Cristo
e o Pentecostes, foi chamado aquele que, perseguidor implacável, veio a
ser Apóstolo das gentes. É o próprio Paulo que conta, numa das
narrativas de sua conversão, a pergunta que brota no coração de todas as
pessoas que se encontram com Jesus Cristo: “Senhor, que queres que eu
faça?” (At 22,10) A graça do apostolado continua a se multiplicar na
Igreja. Quantas pessoas são chamadas a servir ao Senhor no anúncio da
Boa Nova da Salvação, nos ministérios e serviços existentes nas
Comunidades Cristãs! Que profusão de carismas suscitados pelo Espírito
no coração da Igreja, através dos quais as palavras do Evangelho são
postas em prática e “lidas” nas inúmeras obras de caridade e de serviço
existentes em toda parte! E como não reconhecer a beleza do serviço
prestado por homens e mulheres, adultos e jovens, que desempenham a
missão de catequistas em nossas Paróquias?
São todas pessoas que experimentaram a
graça do seguimento de Jesus e não podem se calar. São leigos e leigas
que nos serviços internos da Igreja, nas inúmeras frentes de trabalho
apostólico e na caridade, podem dizer com o Apóstolo São Paulo:
“Anunciar o evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma
necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho!”
(1 Cor 9,16). Por isso fixam os seus corações onde se encontram as
verdadeiras alegrias. Com todas estas pessoas, agradecemos a Deus pelo
mês dedicado às vocações. Em sua conclusão, temos o direito e o dever de
acolher as novas e muitas vocações para o serviço ao Senhor e à sua
Igreja.
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